quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Layana, João e a Lacraia


Lacraias são seres do mal. É o bicho mais apavorante que eu já tive o desprazer de conhecer. Eu seria mais feliz se nem soubesse da existência desse animalzinho asqueroso. Mas nãããããooo... Como se não bastassem existir, elas me perseguem.
Meu primeiro contato com lacraias foi há muitos e muitos anos. Eu era pequena e fui com uns parentes no cemitério visitar o túmulo de um tio meu que faleceu há tanto tempo que eu nem me lembro dele.
Acho que eu devia ser mesmo bem pequena, porque eu só lembro do seguinte: estávamos lá, em frente ao túmulo, quando uma das tias viu um bichinho vermelho correndo em cima da pedra e meu tio pisou em cima e esmagou o bichinho.
Os comentários foram os seguintes:
- O veneno desse bichinho é tão forte que pode matar uma criança ou um velho. E se alguém for picado por ele e não morrer, vai arder em febre por 48h e sentir uma dor insuportável, pode até ficar com seqüelas.

Tem como não ficar aterrorizado?
Pois eu desenvolvi um temor absurdo pelas malditas.

Olha que legal: eu moro num prédio que fica encostado num morro. Deve ser de lá que vêm as lacraias que vêm me visitar pelo ralo do banheiro. Elas começaram tímidas, filhotinhas, vermelhinhas. No principio, eu fazia um escândalo e saia correndo pela casa e gritando e chorando, pelada.
Com o tempo, fui aprendendo a enfrentar meus medos e conseguia matar as nojentinhas com o pote de shampoo. Já estava tirando de letra, quando as coisas pioraram.
Depois que passamos a ter criança em casa, o ralo do banheiro é alvo de atenções constantes. Ele tem que estar sempre fechado e o banho do João é supervisionado não só pra ver se ele "lavou tudo direitinho". É pra proteger do Ataque das Lacraias Assassinas.

Um belo dia, observamos que as lacraias costumavam sair do ralo quando a água do chuveiro estava quente. Aí a faxineira teve a genial idéia de jogar um panelão de água fervendo dentro do ralo, pra ver se matava de uma vez a Colônia de Centopéias Horrendas.

Elas ficaram um tempo sem dar as caras, mas logo voltaram a aparecer. Maiores, adultas, furiosas e - creio eu - mutantes! (tá, vou parar de ver X-Men).

A penúltima que apareceu era do tamanho do meu dedo indicador (tá que eu tenho a mão pequena, mas pra mim isso é um monstro!) e eu tive a audácia de, ao invés de esmagar sem dó nem piedade, catar a bichinha e guardar num copinho com tampa.
Resolvi observar o objeto do meu maior temor. Fiquei dias contemplando a Roberta (foi o nome que João deu pra ela). Dias e mais dias achando fofinho o modo como ela lambia as anteninhas. Tentando entender como funciona a anatomia multi-pernóide dela. E onde ficam os "ferrões"? E pra que servem aquelas pernas maiores na cauda?

E ela lá, dentro do copinho, cada vez mais fraquinha e lerdinha.
Durou uns 6 dias. Uma tortura sem tamanho o que eu fiz com a pobrezinha. A história teria terminado por aí seeee...

... João não tivesse pedido pra eu pegar uma lacraia pra ele também. Não deu nem uma semana e lá veeeeio a próxima vítima aparecer na pia do banheiro (ME-DO!).

Dessa vez, prometi pra mim mesma que seria menos malvada e alimentaria a lacraia. Depois de ter descoberto que ameixa seca não é bom pra dieta de bichos com mais de oito pares de pernas, pensei em alimentá-la com formigas.

Botei um pouquinho de mel numa tampinha e esperei até encher de formigas. Depois, substituí a tampa do copo da lacraia pela tampa com formigas.
Achando que ela ia ficar feliz da vida, sacudi o copo pra ela cair em cima das formigas.
Ela ficou desesperada. Saiu correndo de um lado pro outro, alucinada.
GENTE! Lacraia tem medo de formiga!
Arrumei uns formigões daqueles de jardim pra fazer companhia pra bichinha - mentira, eu queria ver elas saindo no pau pra ver quem ganhava (sim, eu sou MUITO má!)
E como parece que a formiga tem tando medo da lacraia quanto a lacraia da formiga, elas ficam se evitando dentro do copo.
Parece até que traçaram uma linha imaginária, onde a lacraia fica com a parte de baixo e a formiga com a parte de cima do recipiente (até pq a formiga consegue "escalar" o vidro e a lacraia não)

O passatempo do João agora é ficar observando a lacraia e a formiga. E ficar sacudindo o copo e jogando uma pra cima da outra. E me perguntar:
- Pra quem você tá torcendo?
- Hmmm... pra formiga.
- Ah, não! EU tô torcendo pela formiga! Você tem que torcer pela lacraia!
- Tá bem. Vai Lacraia, vai Lacraiaaa... ¬¬

Layana Lossë

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